comorosasdeareia

palavras...como "rosas de areia" ou "flores do deserto"...

sexta-feira, abril 25, 2008



A CIDADE É UM CHÃO DE PALAVRAS PISADAS

A cidade é um chão de palavras pisadas
a palavra criança a palavra segredo.
A cidade é um céu de palavras paradas
a palavra distância e a palavra medo.

A cidade é um saco um pulmão que respira
pela palavra água pela palavra brisa
A cidade é um poro um corpo que transpira
pela palavra sangue pela palavra ira.

A cidade tem praças de palavras abertas
como estátuas mandadas apear.
A cidade tem ruas de palavras desertas
como jardins mandados arrancar.

A palavra sarcasmo é uma rosa rubra.
A palavra silêncio é uma rosa chá.
Não há céu de palavras que a cidade não cubra
não há rua de sons que a palavra não corra
à procura da sombra de uma luz que não há.

José Carlos Ary dos Santos

sexta-feira, abril 18, 2008



CIDADE


Na cidade grande dei por mim
entre poemas e desejos
entre lágrimas e beijos
pierrots e colombinas
arlequins
mosqueteiros e guerrilhas
sortilégios e feitiços
armadilhas

Na cidade grande de caminho me enganei
e quando a noite caiu passei frio
enregelei
e os medos que eu vi só eu os sei
e os segredos que ouvi nunca os contei
a ninguém
e das dores que provei não falei
em silêncio as guardei
e quando de tudo me perdi toquei a solidão
mas fechei-a na mão
passei além da dor venci o medo
esqueci o frio que senti
e consegui
plantar uma flor na pedra do jardim

domingo, abril 06, 2008




CONTO DE FADAS

Na varanda, a bela infanta apaga
o cigarro. O céu sem lua atira-lhe as
estrelas para cima, deixando-a suja
de uma cinza cósmica que ela
sacode para o vaso de flores, onde
o príncipe deixou um bilhete: "Hoje
não pode ser, meu amor"; e ela,
deitando a beata do quinto andar
para a rua, volta para a sala. "Estás
pronta?" Ela não responde. Senta-se,
apenas, ao colo do sapo, e beija-o,
esperando que se transforme em conde,
mandando o príncipe, mais o amor
dele, e o palácio, às urtigas.

Nuno Júdice Cartografia de Emoções