A PALAVRA
A palavra é uma estátua submersa, um leopardo
que estremece em escuros bosques, uma anémona
sobre uma cabeleira. Por vezes é uma estrela
que projecta a sua sombra sobre um torso.
Ei-la sem destino no clamor da noite,
cega e nua, mas vibrante de desejo
como uma magnólia molhada. Rápida é a boca
que apenas aflora os raios de uma outra luz.
Toco-lhe os subtis tornozelos, os cabelos ardentes
e vejo uma água límpida numa concha marinha.
É sempre um corpo amante e fugidio
que canta num mar musical o sangue das vogais.
António Ramos Rrosa
10 Comments:
At 1:43 da tarde, wind said…
Belíssimo!:) beijos
At 5:17 da tarde, Manel do Montado said…
Gostei, uma boa leitura para uma tarde de Domingo cinzenta.
beijo
At 8:09 da tarde, M.P. said…
Só um Poeta consegue exprimir o Significado e a Emoção que está para além de um registo de som num conjunto de letras a que se designou chamar "palavra"!
Espero que esteja tudo bem contigo!
Vou fazer os possíveis por ser mais assídua por aqui! Um beijinho, Maria! :)
At 9:50 da tarde, JPD said…
Olá maria
Belo poema do ARR.
Uma delícia!
Bjs
At 10:53 da tarde, lique said…
Poema extremamente belo. A palavra tem tantas vezes esse carácter fugidio e mágico, como se nunca fosse exactamente aquilo que queremos que seja. Como se tivesse vida própria.
Beijinhos
At 11:46 da tarde, Manuel Veiga said…
Sabe-se lá donde a palavra provem...
sabe-se apenas que nos cativa
nos seus multiplos sentidos esquivos...
tocar-lhe nos "subtis tornozelos" é o máximo que o poeta pode aspirar...
belas, sempre! as tuas escolhas...
beijos
manuel
At 8:45 da tarde, Manuel Veiga said…
Deixo um beijo. Boa semana...
At 4:28 da manhã, Anónimo said…
Que belo canto sobre a palavra!
Grato por essa partilha.
Deixo o meu abraço fraterno.
At 12:24 da tarde, Manuel Veiga said…
saudadesde te ler...
At 12:37 da manhã, Anónimo said…
adoro ARR: belíssimo!
beijo de lua cheia, Maria.
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