SEGUNDA PESSOA
Alguém diz tu. Alguém sem nome.
É a terra e o corpo e é o rasto de um sentido.
Alguém diz tu à imagem que se esgarça,
à certeza de uma longínqua razão.
Longe. O passado. Nomes, errados nomes de desejo.
Cego de insónia, nem lembrar te posso.
Nem mesmo em sonho saberia ver-te.
És só o pronome, tu, a ondular-me na boca,
norte magnético num desespero em surdina.
És a sílaba que dói a dor solar de um sentido.
A história avança na cabra-cega sem rostos,
e eu vivo em ti o tu mais só da minha vida.
Óscar Lopes
9 Comments:
At 2:03 da tarde, Graça Pires said…
"És só o pronome, tu, a ondular-me na boca,"
Um belo poema de Óscar Lopes que eu não conhecia. Obrigada Maria e um beijo.
At 6:17 da tarde, Dois Rios said…
"...e eu vivo em ti o tu mais só da minha vida."
O silêncio devastador de uma ausência.
Belíssimo, Maria!
Beijos,
Inês
At 11:23 da tarde, Victor Oliveira Mateus said…
Um tu que, não sendo mais do que um
"nome", engloba tudo: a terra, a memória, etc.
É a primeira vez na minha vida que leio um poema de Óscar Lopes...
E belíssimo!...
Obrigado, Maria!
At 2:09 da tarde, mariavento said…
Belíssimo!
At 9:04 da tarde, Manuel Veiga said…
"a história avança na cabra-cega sem rostos..."
... que (me) importa o nome? se "dói a dor solar de um sentido" (in)alcançado. sempre.
belíssimo.
beijo
At 10:17 da tarde, JPD said…
Olá maria!
Belíssim poema.
Bj
At 11:38 da tarde, bsh said…
Encantado.
http://desabafos-solitarios.blogspot.com/
At 6:25 da tarde, Maria Laura said…
Lindíssimo poema! Tantos "tus" que nos perpassam a vida... Sem nome, numa rota de solidão.
At 2:51 da manhã, Márcia Maia said…
Belíssimo, Maria.
Um beijo daqui.
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