Vou partir de avião
E o medo das alturas misturado comigo
Faz-me tomar calmantes
E ter sonhos confusos
Se eu morrer
Quero que a minha filha não se esqueça de mim
Que alguém lhe cante mesmo com voz desafinada
E que lhe ofereçam fantasia
Mais que um horário certo
Ou uma cama bem feita
Dêem-lhe amor e ver
Dentro das coisas
Sonhar com sóis azuis e céus brilhantes
Em vez de lhe ensinarem contas de somar
E a descascar batatas
Preparem minha filha para a vida
Se eu morrer de avião
E ficar despegada do meu corpo
E for átomo livre lá no céu
Que se lembre de mim
A minha filha
E mais tarde que diga à sua filha
Que eu voei lá no céu
E fui contentamento deslumbrado
Ao ver na sua casa as contas de somar erradas
E as batatas no saco esquecidas
E íntegras.
Ana Luisa Amaral
15 Comments:
At 1:41 da manhã, Anónimo said…
Maria:) Mais uma vez Ana Luísa Amaral que tem o "condão" de me emocionar, ou tu, que a editas:-) Lindíssimo e belo. Mts beijos:))*** wind
At 7:55 da tarde, Anónimo said…
Que seja o Sentimento a prevalecer sobre o que é rotina e rotineiro, sobre o que deve seguir como regra... lindo poema, Maria! ** M.P.
At 2:55 da tarde, Anónimo said…
belo programa pedagógico em forma de poema
felicito-te pela tua "nova" casa...
beijos
DonBadalo
At 5:47 da tarde, almadepoeta said…
Olá
Para que mais palavras se já li aqui as suficientes para só acrescentar que adorei o teu cantinho.
Andar de avião é seguro, quem vive em ilhas, como eu, é um meio de transporte tão usual como andar de autocarro, não há que ter medo----srsrsr
Beijo
At 6:35 da tarde, Nilson Barcelli said…
Olá Maria
Não conhecia a poetisa.
Mas, pela amostra, é mesmo uma grande Poetisa.
Escolheste bem, por isso. Parabéns.
Beijinho e boa semana.
At 9:02 da tarde, lique said…
Bom, tu sabes que eu adoro a poesia de Ana Luísa Amaral. E este poema, em forma de "últimas vontades" para a filha emociona-me sempre. Eu não tenho medo de voar mas, nos tempos em que fazia frequentes idas ao estrangeiro em trabalho, pensava sempre nas minhas filhas quando partia. É isso que faz o nó na garganta quando se lê este belíssimo poema. Beijinhos
At 10:26 da tarde, JPD said…
Muito boa escolha, maria!
Curiosamente, morre-se mais de carro do que de avião.
O medo é assim mesmo.
Bjs
At 10:49 da tarde, maria said…
Eu sei Wind, também comigo isso acontece e por isso de vez em quando a edito... Beijinho e boa semana...:))
At 10:50 da tarde, maria said…
Outro beijo deste lado de cá Márcia e obrigada mais uma vez pela visita... :))
At 10:52 da tarde, maria said…
Sim, MP, que toda a educação seja também e se calhar acima de tudo, uma educação pelos sentidos... Beijo e desejos de boa semana... :))
At 10:56 da tarde, maria said…
Gosto de te ver por aqui Don Badalo! Sim, este poema encerra, subtilmente e de uma forma muito bonita, uma verdadeira lição de pedagogia!Obrigada pelas tuas palavras, beijinho e desejos de uma boa semana...:))
At 10:58 da tarde, maria said…
Olá Alma de Poeta! Obrigada pela visita que retribuirei e obrigada pelo comentário também. Quanto à segurança estamos de acordo... Beijinho também para ti... :))
At 11:00 da tarde, maria said…
É sim, Nilson. Tem poemas lindíssimos. Um beijinho e desejos de boa semana também para ti... :))
At 11:02 da tarde, maria said…
Sim lique, eu sei... E também entendo muito bem o nó na garganta... Beijinho grande para ti e óptima semana, fica bem... :))
At 11:05 da tarde, maria said…
Eu sei Zé! Se perguntarmos à razão, esta, baseada em informação fidedigna, dir-nos-á isso mesmo... O pior é quando os medos residem no lado irracional que todos temos!... Beijo e boa semana, amigo...:))
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