
O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo.Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...
Alberto Caeiro
7 Comments:
At 3:26 da manhã,
Sonia Schmorantz said…
Que linda escolha, dá gosto sair a passear e encontrar poemas assim...
beijo
At 5:02 da tarde,
A.S. said…
Obrigado por partilhares tão belo poema!
A. Caeiro, continua fingindo, mas estará sempre entre nós através da sua incomparável poesia!
Beijos
At 7:02 da tarde,
vida de vidro said…
"Pensar é estar doente dos olhos". Como isto é verdade! Uma frase que sempre me fascinou neste belo poema. Obrigada, Maria. **
At 11:49 da tarde,
Manuel Veiga said…
que a "eterna novidade do Mundo" continue a inspirar-te...
é bom vir aqui.sempre.
beijos
At 1:57 da tarde,
Graça Pires said…
É Caeiro o poeta que mais gosto dos heterónimos de Pessoa. Este poema é um encanto.
Um beijo.
At 7:29 da manhã,
Sonia Schmorantz said…
Feliz Páscoa
Feliz renascer
que a fé e a esperança sejam renovadas para que tenhas uma vida em paz e feliz.
beijo
At 4:13 da manhã,
Márcia Maia said…
Lindíssimo, Maria. Não conhecia.
Um beijo grande, de saudade, daqui, do outro lado do mar, onde choveeeee.
Enviar um comentário
<< Home