comorosasdeareia

palavras...como "rosas de areia" ou "flores do deserto"...

domingo, janeiro 25, 2009



ESTÁTUA DE SAL

Já não cheiram a mar nem a pecado
os teus cabelos.
Já não me sabe a sal
a tua boca.
Já não sabes descobrir de olhos fechados
a ternura em cada canto do meu corpo
os desejos disfarçados
escondidos e calados entre os juncos
adiados
atrás das dunas e dos medos
nem trazes já ondas entre os dedos.
Já não sabes perder as tuas mãos
nos caminhos proibidos dos sentidos
interditos, ilegais.
E nos teus braços
já não trazes laços nem sinais
dos abraços exilados no luar.
Já não trazes nas palavras
a coragem das senhas proibidas
orgias de dor e de prazer
tamanhas, desmedidas
que sabias dizer.
E o teu peito
já não é mais o leito ou o regaço
onde deito o meu cansaço e adormeço
como se eu fosse uma criança
e o teu peito um berço.
Já não dissolvo a minha dor no teu sorriso
que era quente como o sol
que era enorme como o mar
e também já não trazes espelhos no olhar
só poeira...
E quando me deito à tua beira
já não te sinto inteiro na raiva ou na ternura
divino, marginal.
Em ti já só pressinto, esculpida em tédio e vento
uma estátua efémera de sal...

Maria



7 Comments:

  • At 12:10 da tarde, Blogger Nilson Barcelli said…

    O poema do desencanto...
    Acontece aos melhores amores querida amiga.
    O poema é excelente, ao teu melhor nível.
    Bom Domingo.
    Beijo.

     
  • At 2:52 da tarde, Blogger Arantza G. said…

    Poema que duele, que abarrunta el adiós o cuando menos, la decepción.
    Gracias por tu visita.
    Un abrazo.

     
  • At 5:01 da tarde, Blogger Manuel Veiga said…

    o Tempo, querida Amiga. que seca a pele, mas também perfuma o licor da vida...

    belíssimo poema. é com enorme alegria que saudo o teu regresso. ás lides poéticas.

    beijo

     
  • At 7:36 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Leve então
    O resto desta ilusão
    E todos os cuidados meus
    Brinquedos dos caprichos

    É pena porque foi tão lindo amar
    Sentir você sonhar tão junto a mim,
    Ouvir tanta promessa,
    Fazer tanta esperança,
    Pra hoje ver lembrança, tudo enfim

    Nâo passou
    De um triste desencanto, amor,
    E desde então eu canto a dor
    Que eu não soube chorar



    Desencanto
    Chico Buarque


    Muito sentido o teu poema...
    ...estremeci.

    Um beijo

    Al_muthamid

     
  • At 6:01 da tarde, Blogger Nilson Barcelli said…

    Um bom resto de semana para ti.
    Beijo.

     
  • At 7:43 da tarde, Blogger vida de vidro said…

    O tempo tudo muda. Damos por nós a entoar odes ao desencanto. Mas o que foi, valeu. Enriqueceu a vida. Gosto de voltar a ler palavras tuas, Maria. Beijo.

     
  • At 11:30 da manhã, Blogger Graça Pires said…

    Desencanto. Desencontro. Um belo poema do sentir e da solidão.
    Um beijo Maria.

     

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