NOCTURNO
À noite vou por aí,
ociosamente.
Percorro um ritual lilás
feito de violetas de pedra
e traço cada pausa
no retorno da lua inicial.
Aqui a memória é lenta
como as angústias.
Muitas vezes vejo árvores
com frutos azuis,
ou animais em nudez perfeita
respirando o vento.
A escuridão é o subterfúgio
inesperado do coração
quando o olhar aquece
e o orvalho é de cetim.
Há máscaras de búzios e limos
na cara de quem passa.
Nas suas vozes ouço o itinerário
das manhãs siderais
e nasce nos meus passos
o rumo da via láctea.
Ninguém me conhece.
Venho do arco-íris
e trago nos dedos
o ângulo transparente da noite.
Graça Pires
8 Comments:
At 8:07 da tarde, wind said…
Esta poetisa é extraordinária e acho que só tu a editas:) beijos.))***
At 9:35 da tarde, Anónimo said…
"...Há máscaras de búzios e limos
na cara de quem passa.
Nas suas vozes ouço o itinerário
das manhãs siderais
e nasce nos meus passos
o rumo da via láctea.
Ninguém me conhece..."
Bonito este poema selecionado, gostei de o ler. Beijinhos.
At 9:38 da tarde, Manel do Montado said…
(...) A escuridão é o subterfúgio
inesperado do coração (...)
Diz-me algo esta parte do poema, mais do que se possa pensar.
Boa escolha e parabéns pelo bom gosto.
Beijo
At 3:28 da tarde, lique said…
As palavras envolvem-nos no ambiente onírico da noite por onde passeamos, irreconhecíveis.
Beijos
At 3:55 da tarde, Anónimo said…
"Ninguém me conhece/venho do arco iris/ e trago nos dedos/ o ãngulo transparente na noite..."
Julgo (re)conhecer estes versos. De tão próximos... Luzem na noite. Beijos
At 10:16 da tarde, JPD said…
Uma maravilha de poema.
muitíssimo bom.
Excelente escolha.
bjs
At 10:29 da tarde, lique said…
Vou fazer uma pausa durante as Festas. Do coração desejo-te um Feliz Natal e um óptimo ano de 2006.
Beijos , amiga.
At 1:23 da tarde, Manel do Montado said…
À noite vou por aí,
ociosamente.(...)
Também eu, ociosamente, gosto de vaguear pela noite.
Deixo-te um beijo de bom Domingo e adorei reler-te, sempre.
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