COISAS DE PARTIR
Tento empurrar-te de cima do poema
para não o estragar na emoção de ti:
olhos semi-cerrados, em precauções de tempo,
a sonhá-lo de longe, todo livre sem ti.
Dele ausento os teus olhos, sorriso, boca, olhar:
tudo coisas de ti, mas coisas de partir...
E o meu alarme nasce: e se morreste aí,
no meio de chão sem texto que é ausente de ti?
E se já não respiras? Se eu não te vejo mais
por te querer empurrar, lírica de emoção?
E o meu pânico cresce: se tu não estiveres lá?
E se tu não estiveres onde o poema está?
Faço eroticamente respiração contigo:
primeiro um advérbio, depois um adjectivo,
depois um verso todo em emoção e juras.
E termino contigo em cima do poema,
presente indicativo, artigos às escuras.
Ana Luís Amaral, in Coisas de Partir
6 Comments:
At 11:12 da tarde, JPD said…
Extraordinário.
(E não acrescento mais nada. Estou rendido)
Bjs
At 1:16 da tarde, A.S. said…
Lindissimo! Tenho a certeza que tudo aquilo que buscas incessantenente, está bem perto de ti... em cima de um poema!
Um beijo
At 7:13 da tarde, wind said…
Belo!!! Não há palavras para descrever o que se sente ao ler esta poetisa! beijos e bom fim de semana:)*
At 10:32 da tarde, M.P. said…
Nunca havia lido nada desta poetisa! ADOREI! Bom fim de semana! **
At 10:37 da tarde, lique said…
É um dom tratar as palavras desta forma. Dia a dia, aprecio mais a poesia de Ana Luísa Amaral. Obrigada, Maria. Beijinhos
At 11:43 da tarde, Anónimo said…
o que a poetisa nos diz é que melhor que escrever um poema é "fazer" Poesia!
gostei deveras, Maria! beijos
DonBadalo
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