comorosasdeareia

palavras...como "rosas de areia" ou "flores do deserto"...

domingo, janeiro 29, 2006

poema4.jpg

ARTE POÉTICA COM CITAÇÃO DE HOLDERLIN

O poema lírico nasceu de uma roseira. Não
digo que fosse a rosa de cima, aquela que todos
olham, primeiro que tudo, pensando
em cortá-la para a levarem consigo. É
a rosa nem branca nem vermelha, a rosa pálida,
vestida com a substância da terra
a que toma a cor dos olhos de quem a fixa, por
acaso, e ela agarra, como se tivesse
mãos abstractas por dentro das suas folhas.
Colhi esse poema. Meti-o dentro de água,
como a rosa, para que flutuasse ao longo de um rio
de versos. O seu corpo, nu como o dessa mulher
que amei num sonho obscuro, bebeu a seiva
dos lagos, os veios subterrâneos das humidades
ancestrais, e abriu-se como o ventre da
própria flor. Levou atrás de si os meus olhos,
num barco tão fundo como a sua própria
morte.
Abracei esse poema. Estendi-o na areia
das margens, tapando a sua nudez com os ramos
de arbustos fluviais. Arranquei os botões
que nasciam dos seus seios, bebendo a sua cor
verde como os charcos coalhados do Outono. Pedi-lhe
que me falasse, como se ele só ainda soubesse
as últimas palavras do amor.
(Metáfora contínua de um único sentimento).

Nuno júdice

11 Comments:

  • At 11:51 da tarde, Blogger wind said…

    Um belíssimo e erótico poema:) beijos:)*

     
  • At 3:56 da tarde, Blogger fotArte said…

    Muito bonito e arrebatador.
    Continua a deixar-nos estes poemas saborosos como a água cristalina que brota de uma fonte ;)

     
  • At 11:26 da tarde, Blogger JPD said…

    Que mais dizer da poesia do júdice?
    Uma delícia que se repete incessantemente!
    A escolha de qualidade, como sempre.
    bjs

     
  • At 8:28 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    indiscutivelmente... não aprecio!

     
  • At 8:30 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    indiscutivelmente... não aprecio!

     
  • At 10:17 da tarde, Blogger lique said…

    Uma rosa pouco notada, mas amada, tratada, quase "mimada". Aí está a arte de fazer um poema lírico. Notável este poema de Júdice.
    Beijinhos, Maria.

     
  • At 5:49 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    bonito

     
  • At 10:29 da tarde, Blogger Manel do Montado said…

    Perdoa, mas prefiro os teus...gostos!
    Beijo

     
  • At 10:47 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    esse eu ainda não conhecia, mesmo gostando muito do poeta.

    beijo do verão, maria.

     
  • At 4:27 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Já com muitas saudades de ti...porque te esqueceste de mim?
    Tens um extremo bom gosto que se refelcte nas tuas escolhas.
    Beijinhos Maria

     
  • At 4:39 da tarde, Blogger fotArte said…

    Muito lindo. Gostei muito. Uma boa semana para si.

     

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