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palavras...como "rosas de areia" ou "flores do deserto"...

segunda-feira, julho 17, 2006


POEMA DUM FUNCIONÁRIO CANSADO

A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só
Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Por que não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Por que me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço?
Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo numa só noite comprida
num quarto só.

António Ramos Rosa

8 Comments:

  • At 3:11 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Para a Maria:

    Patxy Andion é também um dos cantores / compositores preferidos.

    Escutei pela primeira vez as canções de Patxi Andion a seguir à revolução portuguesa de 25 de Abril de 1974.

    Eu tinha 25 anos, nessa altura e a cabeça cheia de ilusões de mudanças sociais.

    Tal como as canções de José Afonso, as de Patxi Andion intervêm na sociedade como uma forma de pressão para uma vida melhor, com uma actividade consciente de cada cidadão que não deve cruzar os braços, mas antes lutar por todos e com todos como diz numa das suas muitas canções:

    - “Y no quisiste jamás
    salvarte solo,
    porque no hay salvación - decías -
    si no es con todos.”

    Numa outra canção, uma crítica à sociedade que se habitua a rituais nunca mudados:

    "" 20 años de estar juntos
    esta tarde se han cumplido
    para ti flores, perfumes
    para mi, algunos libros"


    Ainda hoje (2006) ouço essas canções. Fico empolgada com a sua força e o meu ego enche-se de esperança na expectativa de que a salvação política e social chegue a todos.

    Talvez, um dia…

    Obrigado, Patxi, pelas tuas canções.

    Amigos, façamo-las chegar a toda a gente.

    Uma Portuguesa com todos os Espanhois em busca de mudança.

     
  • At 7:48 da tarde, Blogger Manuel Veiga said…

    sinto-me por vezes um "funcionário cansado". talvez isso possa justificar a "operação cirúrgica" muito pouco estética (reconheço). espero a tua compreensão. beijos

     
  • At 10:45 da tarde, Blogger JPD said…

    Olá Maria!

    Regresso da pausa e sinto-me gratificado por ler este extraordinário poema do Ramos Rosa.
    Boa escolha, como sempre.
    Bjs

     
  • At 4:29 da tarde, Blogger Å®t Øf £övë said…

    Maria,
    Muito bonito este poema, e muito verdadeiro também.
    Por vezes a vida deixa-nos cansados.
    Bjs.

     
  • At 11:05 da tarde, Blogger A. Pinto Correia said…

    Adoro as tuas escolhas Maria.
    Beijos minha querida

     
  • At 2:55 da tarde, Blogger M.P. said…

    Depois de um Poema destes que subscrevo como funcionária cansada das imputações que fazem à classe profissional a que pertenço há tanto tempo mas que nunca foi tratada assim... venho dizer-te que estou finalmente em férias... Por isso venho desejar-te também umas BOAS Férias e deixar-te um beijinho.. :)

     
  • At 12:11 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Dá vontade de co-assinar. ;)
    Obrigada por mais este, Maria.
    Um beijo grade deste inverno com cara de verão, do lado de cá.

     
  • At 10:12 da tarde, Blogger lique said…

    Deves estar de férias mas não podia deixar de te dar um grande beijo e de te dizer até sempre. Vou indo, Maria, mas virei ler-te concerteza.

     

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