Amanhã, quando o chão for a construção da nudez
e houver, entre os teus olhos
e os meus, um súbito musgo,
não se repetirá, meu Amor,
o cambalear das palavras na garganta,
nem diremos a interdição dos lagos
na saliva esgotada no sal.
Alguns corpos inventam
a dimensão incondicionada da noite,
exposta e cúmplice como a terra.
Nós saberemos, lentamente,
o mel inquietante dos dedos.
Em nome da primeira vez que amei,
tracei na pele um movimento eterno de combustão e dor,
peças sensíveis da engrenagem
montada no fundo dos meus olhos
como um ciclo solar.
Hoje conheço os contornos de um lugar
pela quietude das ondas na maré vaza,
ou pela brisa espontânea do poente
e sei que o amor,
onde nenhuma contradição é necessária
é tudo quanto sobra no espaço vazio
entre o que somos e o que não somos.
Graça Pires
5 Comments:
At 10:29 da tarde, JPD said…
Admirável poema.
Bela escolha.
Bjs
At 12:23 da manhã, Manuel Veiga said…
amor como lugar "onde nenhuma contradição é necessária"! excelente de beleza e ... sabedoria!
At 3:25 da tarde, Anónimo said…
Olá, estou de passagem, vou de vento agradável,parei e gostei do lugar, um abraço...
At 10:26 da manhã, vida de vidro said…
"só o amor preenche
o lugar vazio da alma"
Ou vi isto escrito, ou escrevi noutra "encarnação"...:)
Este é um poema belíssimo. **
At 10:32 da tarde, Manel do Montado said…
Lindo...lindo, mais lindo ainda.
Não tenho adjectivo melhor, espera Belo, sim lindo e belo poema.
Bj
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