comorosasdeareia

palavras...como "rosas de areia" ou "flores do deserto"...

sábado, abril 29, 2006

DIA MUNDIAL DA DANÇA
BAILARINA


Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina
não conhece nem dó nem ré
mas sabe ficar na ponta do pé
não conhece nem mi nem fá
mas inclina o corpo para cá e para lá
não conhece nem lá nem sí
mas fecha os olhos e sorri
roda, roda, roda com os bracinhos no ar
e não fica tonta nem sai do lugar.
põe no cabelo uma estrela e um véu
e diz que caiu do céu.
esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina
mas depois esquece todas as danças,
e também quer dormir como as outras crianças.


Cecília Meireles

terça-feira, abril 25, 2006



EXÍLIO

Quando a pátria que temos não a temos
Perdida por silêncio e por renúncia
Até a voz do mar se torna exílio
E a luz que nos rodeia é como grades.

Sophia de Mello Breyner Andersen

domingo, abril 23, 2006


“Se os governos semeassem livros não precisariam distribuir esmolas”
Maria Valdira Bezerra

NO LUGAR QUE NÃO SE RESPIRA
um livro feito de água
é perfeito
porque não se pode
guardar
suas páginas líquidas
translúcidas
vêm dos anfíbios-hieróglifos que dizem não
à luz
não hesitam ao eterno eclipse
de um céu aquoso
de lá vêm as imagens do livro
que não é um livro de arte
um livro feito de água não se quer eterno
(sequer existe)
mas um ser vivo (um peixe é um livro)
na diversidade que adensa a unidade
no lugar que não se respira
ar

Ricardo Corona

segunda-feira, abril 17, 2006


MI POEMA DE ABRIL

Picoteando la cáscara
de algún viejo recuerdo
con la lluvia de Abril
nacerá mi poema
le pondré mil colores
con obscuros y claros
una música tenue
y el perfume de nardo.

Como una luciérnaga
volará titilando
subirá por los aires
escapando de mi alma
se estiraran mis manos
sin poder alcanzarlo
y dejará mis labios
como siempre rogando

Que una estrella lo guíe
que lo lleve a tu lado
Pues si tú lo encontraras
si llegás a escucharlo
mi poema de Abril
quizá viva hasta Mayo.

Ramón de Almagro

quarta-feira, abril 05, 2006



REGRESSO

Sem mais nem menos
surgiu o passado,
corpo intranquilo
feito de sons semelhantes
aos rostos que amei,
universo donde me excluí,
mar desprovido de cais
na obliquidade dos contrastes.

Esta noite voltei à minha infância:
menina rosada de sonhos nos bolsos,
bailarina de corda na caixinha de som.

À infância regressa-se solitariamente,
subindo um rio sem margens,
até ao lugar em que a nascente
se confunde com o tempo
e o tempo se transforma em espanto.

Procuro, teimosamente,
o rasto da brisa
que me invade o corpo
e apenas sei que o sonho
é um risco inquietante,
quando a solidão tem rosto
e se conhece a posição das estrelas
no âmago das palavras.

Reinicio a infância
no esboço do poema
e circunscrevo o litoral
fragmentado do que sou.

Quem foi que descodificou
o céu no meu olhar
e me deixou na alma
um deus imaginado?

Quando o espaço do sonho é circular
como o tempo das cerejas,
ou da migração dos pássaros
que fendem o infinito,
inadiado é o rito da poesia.

Se eu fosse uma gaivota, dançaria
na proa dos veleiros
até à hipnose
de abraçar a maresia.
Graça Pires