comorosasdeareia

palavras...como "rosas de areia" ou "flores do deserto"...

quarta-feira, maio 25, 2005

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FOGO PRESO
Quando se ateia em nós um fogo preso,
o corpo a corpo em que ele vai girando
faz o meu corpo arder no teu aceso
e nos calcina e assim nos vai matando
essa luz repentina até perder alento,
e então é quando
a sombra se ilumina,
e é tudo esquecimento, tão violento e brando.
Sacode a luz o nosso ser surpreso
e devastados [nós] vamos a seu mando,
nessa prisão o mundo perde o peso
e em fogo preso [à noite] as chamas vão pairando
e vão-se libertando
fogo e contentamento,
a revoar num bando
de beijos tão sem tento
que não sabemos quando
são fogo, ou água, ou vento,
a revoar num bando
de beijos tão sem tento
que perdem o comando
do próprio esquecimento.

Vasco Graça Moura

quarta-feira, maio 18, 2005

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O meu amigo Zé do http://melnofrasco.blogspot.com, teve a gentileza de me convidar a entrar nesta “cadeia”. Grata pela lembrança, faço-o com muito gosto. Beijinho, Zé...

CADEIA DE CINEFILIA


1. QUAL O ÚLTIMO FILME QUE VISTE NO CINEMA?

“O Verão de Kikujiro”, de Takeshi Kitano – uma delícia de filme com uma lindíssima banda sonora

2. QUAL A TUA SESSÃO PREFERIDA?
Fim de tarde


3. QUAL O PRIMEIRO FILME QUE TE FASCINOU?
“Música no Coração” – fez-me sonhar…sonhar…sonhar…e cantar…cantar…cantar…


4. PARA QUE FILME GOSTARIAS DE TE VER TRANSPORTADO(A)?
“Contacto”, baseado no livro de Carl Sagan e realizado por Robert Zemeckis


5. QUAL A PERSONAGEM DE QUE FILME QUE TERIAS GOSTADO DE CONHECER UM DIA?
Nathan Forrest de Forrest Gump e interpretado por Tom Hanks

6. E QUE ACTOR/ACTRIZ, REALIZADOR, ARGUMENTISTA, PRODUTOR GOSTARIAS DE CONVIDAR PARA JANTAR?
Katharine Hepburn, Marlon Brando, Andy Garcia, Robert De Niro, Jodie Foster, Michelle Pfeiffer, Spielberg, Pedro Almodôvar…


7. A QUEM VOU PASSAR ISTO?
À Manela de http://sabem.blogspot.com à Wind de http://wind9.blogspot.com/ e àquela pessoa especial que é o Zé que está em http://vbeiras.blogapraai.com/

quarta-feira, maio 11, 2005

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CONVITE

Não sou a areia
onde se desenha um par de asas
ou grades diante de uma janela.
Não sou apenas a pedra que rola
nas marés do mundo,
em cada praia renascendo outra.
Sou a orelha encostada na concha
da vida, sou construção e desmoronamento,
servo e senhor, e sou
mistério
A quatro mãos escrevemos este roteiro
para o palco de meu tempo:
o meu destino e eu.
Nem sempre estamos afinados,
nem sempre nos levamos
a sério.
Lya Luft

quinta-feira, maio 05, 2005

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TERNURA

Puxo sobre os teus ombros o lençol
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do Sol,
quando depois do Sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio
como vultos perdidos na cidade
em que uma tempestade sobreveio...
Começas a vestir-te lentamente,
e é ternura também que vou vestindo
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...
Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!

David Mourão-Ferreira

domingo, maio 01, 2005

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POEMA À MÃE

No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe!

Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos!

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais!

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura!

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos...

Mas tu esqueceste muita coisa!
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me? -,
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz:
"Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal..."

Mas - tu sabes! - a noite é enorme
e todo o meu corpo cresceu...

Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas...

Boa noite. Eu vou com as aves!

Eugénio de Andrade