Aqui estou, cercada de mim,
melancolia trazida
do interior de um bosque,
silhueta a preto e branco
na figuração de um pássaro em voo lento.
Há quanto tempo,
só eu sei quanto,
as amarras de um barco
se quebraram,
no interior frágil
do instante em que fui vento,
ou apenas um abandono breve,
como as mãos no acto de dar.
No ângulo do grito e da língua
se explica a leveza das lágrimas,
circunfluência no interior das pálpebras,
longínquo lago na cintura dos lábios.
Cheguei ao lugar onde se cruzam
todos os ventos sem hálito
e chamo pelo nome os frutos e a fome,
para que ninguém se comprometa
ao tocar nos meus ombros.
Graça Pires
7 Comments:
At 2:06 da tarde, Manuel Veiga said…
fecha-se cada vez mais o círculo da "interioridade", bem o sei. que o hálito dos ventos pouse suave nos teus ombros...
beijo.
At 4:08 da tarde, JPD said…
Um poema magnífico, cheio de emoção.
Uma delícia!
Bjs
At 6:16 da tarde, Nilson Barcelli said…
Não sei quem é a Graça Pires, mas ela escreve bem, a julgar por este poema.
Fizeste boa escolha, por isso.
Beijos.
At 12:28 da manhã, wind said…
Muito fechado em si, mas belo:)
beijos:))**
At 5:50 da tarde, Manuel Veiga said…
beijo, Maria
At 1:48 da tarde, Luís Galego said…
para que ninguém se comprometa
ao tocar nos meus ombros.
Dá que pensar este poema...
At 9:44 da manhã, Anónimo said…
Olá!
Acredite que quando vi o seu blogue, pensei que me estava a retratar!!
Parabéns, todo ele está com muito gosto e "verdade"!
Graça Pires é para mim uma poetisa de valor e como tal, atrevo-me a colocar aqui um poema dela.
Beijinhos
Lita
Um encontro
Deambulei em volta do mundo,
à procura do lado mais selvagem da noite.
Encontrei-te no lugar onde o arco-íris
entorna o excesso de cor.
Havia, no teu olhar, um sinal
de sentido obrigatório,
uma passagem secreta
ajustada ao desejo,
um brilho inocente e cúmplice
que aqueceu o tumulto dos meus olhos.
Subleva-se, agora, um rio no meu corpo,
enquanto, à flor da pele, a urgência da sede,
toma o pulso dos dias
e redime a mendicidade das mãos.
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